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Tenho fome.

Tenho fome.

Que Nome Damos a Isto?Que Nome Damos a Isto?

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A TAP tem servido para ocupar um enorme espaço nos jornais. Contudo, a fome em Portugal cresce e ninguém a quer ver. Em 2021 uma em cada quatro crianças estavam em risco de pobreza e/ou exclusão social. 388 mil crianças com fome e todos apenas falam da TAP. Um olhar de Hugo Rufino Marques Em parceria com o jornal Postal do Algarve e com o centro Europe Direct Algarve.

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The speaker discusses the recent TAP case and criticizes the Portuguese government for its weak management. They highlight the issues of secret meetings, the President's influence, and the CEO's dismissal. However, while the country is focused on TAP, they overlook the growing poverty and exploitation of migrants. Portugal has good legislation and integration programs, but there is still a long way to go in practice. They mention cases of migrants living in poor conditions and being exploited by criminal networks. The speaker emphasizes the need for societal awareness and action to address these issues, as poverty and hunger are becoming increasingly visible in the country. They criticize the media for prioritizing the TAP case over more pressing concerns. The speaker encourages listeners to share their opinions and concludes by highlighting the importance of addressing the hunger crisis in Portugal. Olá, Ora Viva. Bem-vindos a mais um Que Não Mudamos a Isto. Nos últimos dias somente ouvimos falar do caso TAP e como o governo português está fragilizado, não caindo porque o Presidente da República ouve-o dois cidadãos na rua e mais um periquito, e concluiu no alto do seu palanque que não era a melhor altura para haver eleições porque a oposição ainda não estava preparada, porque havia a guerra na Ucrânia, porque o meu chapéu tem três bicos, tem três bicos o meu chapéu, se não tivesse três bicos o chapéu não era meu. E tudo isto mesmo que o caso TAP tenha trazido ao de cima a gestão, e usar a palavra gestão aqui é de veras irónica, da TAP onde passava por reuniões secretas antes de audiências parlamentares, solicitação do cancelamento de um voo porque dava jeito ao Sr. Presidente da República e como era bom ele estar satisfeito para não mudar de humor, reuniões com Fernando Medina onde este solicitou a demissão da CEO da TAP e após a recusa da mesma vem para a televisão informar em direto que demitiu a CEO da TAP, tal galante de telenovelas mexicanas. Foi tudo tão mau, mas tão mau que quanto mais este assunto se prolonga no tempo, mais me passa pela cabeça os ministros, secretários de Estado, deputados, entre outros personagens neste enredo de alentejo sem lei, dizerem PASSARAM-ME! Isto politicamente falando. Porém, enquanto Portugal anda embriagado com o caso TAP, todos normalizam a pobreza que vai engorçando as suas fileiras. São inúmeros os casos de migrantes que são encontrados em condições precárias, mesmo que Portugal seja considerado pelo Mipex como o segundo melhor país do mundo para receber e integrar imigrantes. Eu sei que parece uma brincadeira ou um estudo encomendado, mas não, não é. O Mipex avalia o índice de políticas ao nível legislativo e programas de integração que, em Portugal, são muito, muito, muito bons. Porém, ainda existe um enorme caminho a percorrer entre o que está escrito e programado e o que acontece no terreno. Portugal possui uma legislação de migração com mais de 120 artigos e respectivas burocracias que, para migrantes pobres e provenientes de países onde a língua portuguesa não é nem parecida com a sua língua, acabam por cair nas malhas de redes mafiosas organizadas que aproveitam estes longos processos burocráticos do Estado para atuarem. Em março deste ano, foram encontrados no município de Faro 132 imigrantes que estavam a viver em seis armazéns e onde pagavam 100 euros por colchão. Segundo o SEF, os migrantes encontrados estavam dependentes de conterrâneos, sócios-gerentes de empresas, prestadores de serviços de cedência de mão de obra para explorações agrícolas e cujo o trabalho não era desempenhado de uma forma contínua. Ao que se pode ainda apurar, o proprietário dos armazéns alugava os mesmos por 700 euros ao mês aos inquilinos que, por sua vez, enchiam de belichos e sobrealugavam os mesmos. Outro caso surgiu na Lourinhã, onde a Associação Ajuda a Quem Precisa foi chamada para ajudar um homem que tinha sido visto a revirar caixotes de lixo na área do Sobral da Lourinhã. Quando a equipa chegou ao local, deparou-se com um jovem paquistanês de fraca figura, sem forças para levar a ajuda que recebera até ao local onde pernoitava. A equipa deu o boleio ao jovem e, quando chegou ao local, deparou-se com um armazém onde residiam um total de 13 migrantes com diversas necessidades. Estes migrantes eram explorados e recebiam somente entre 30 a 20 euros por semana para fazerem uma refeição. Estes casos multiplicam-se por todo o país. E o caso de Odmira, o escândalo que foi Odmira, não foi um caso isolado e ninguém aprendeu absolutamente nada com ele. É necessário afirmar que não existem inocentes nestes casos de exploração de migrantes sem serem as próprias vítimas destas redes criminosas, pois até nós, a sociedade portuguesa, não temos uma cultura cívica para estabelecer um limite ético e denunciar estes crimes porque fomos educados a não nos metermos para não termos problemas. Peço desculpa, eu disse? A sociedade portuguesa não tem cultura cívica? Lamento, não queria ofender ninguém. A sociedade portuguesa tem cultura cívica, mas eu também não posso exigir muita cultura cívica a um povo que tem fome. Sim, fome. Portugal tem fome. Segundo dados do Eurostat, em 2021, uma em cada quatro crianças estava em risco de pobreza e ou exclusão social. Isto representa um total de 388 mil crianças que necessitam de um apoio imediato. A pobreza em Portugal existe e começa a ser cada vez mais visível nas ruas, principalmente para os voluntários que todas as noites vão nas carrinhas de apoio às pessoas mais necessitadas pelas ruas das grandes cidades como Lisboa e Porto. Cada vez mais eles deparam-se com crianças sozinhas nas ruas que necessitam de apoio e de comida. Deparam-se com jovens que têm um trabalho e têm uma casa, mas cujas despesas são tantas ou o salário é tão baixo que não conseguem fazer face às suas necessidades e a alimentação começa a faltar. Em muitos dos casos, as associações, enquanto antes sobrava algumas chantes ou conseguiam ter uma comida extra, agora quase que desaparece a comida na paragem. Já não conseguem fazer duas ou três paragens como faziam antes e as pessoas que pedem ajuda já não é o sem-abrigo que dorme no banco do jardim ou que procura a Gar do Oriente ou outras estações de comboio ou de metro para terem algum abrigo e poderem dormir. Não. Agora são toda a gente. Eu, você, o sem-abrigo na rua. Pessoas como nós vão procurar esta ajuda porque não sabem como pagar a alimentação. É por isso que eu digo que é necessário ter muita, muita vergonha. Utilizar em casos como o da TAP, que de facto têm que ser vistos, mas ocuparem os noticiários só com isto. Portugal tem muitos, muitos problemas e a fome é um deles. Em um país que dá mais atenção a uma companhia aérea do que ao estômago dos seus cidadãos, que país é esse? Em mesmo caso é melhor que não mudamos a isto. Envie-nos as suas opiniões para que não mudamos a isto arroba gmail.com e encontramos-nos na próxima quarta-feira. Desejo-lhe a continuação de uma boa semana.

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